segunda-feira, 14 de março de 2011

Características da Genealogia do Poder em Foucault


A palavra-chave que define o método genealógico de Foucault é o binômio: PODER – SABER. Foucault busca, na sua genealogia, analisar o aparecimento dos saberes.
O Saber se dá a partir de “condições de possibilidades externas aos próprios saberes, sendo externas aos próprios saberes, ou melhor, que, imanentes a ele – pois não se trata de considerá-los como efeito ou resultante -, os situam com elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica” (MACHADO, [introdução ao livro Microfísica do Poder, de Foucault]).  Em outras palavras, o indivíduo é a resultante imediata das relações de poder. E não existem sociedades livres das relações de poder supracitadas. Ainda em relação a esses poderes, estes vão além das relações de poder legalmente instituídas, como a Constituição e os demais atos normativos concernentes ao poder instituído legalmente, expandindo tais relações aos processos subjacentes hierárquicos da sociedade, como por exemplo, as relações médico-paciente, professor-aluno, pais-prole, empregador-empregado, etc., todas heterogêneas e em constante mutação.
Foucault descreve todas as redes articuladas como sendo redes de micro poderes, que atravessam toda a estrutura social. 
Assim, cabe afirmar que “o Poder” não existe, o que existe na realidade são as relações de poder que são exercidas e que funcionam em uma espécie de rede.
Para ilustrar, Foucault afirma, em Vigiar e Punir: “Ora, o estudo desta micro física supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma ‘apropriação’, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que se seja dado como modelo antes a batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou uma conquista que se apodera de um domínio. Temos, em suma, de admitir que esse poder se exerce mais do que se possui, que não é ‘privilégio’ adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas posições estratégicas – efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados.”.
Outro ponto interessante da Genealogia do Poder é a relação inclusão/exclusão. Para ilustrar a questão, Foucault usa os exemplos da peste e da lepra. Nas cidades, onde se achava um leproso, este era imediatamente colocado para fora dos portões da cidade, sendo assim ”excluídos” daquela comunidade. No caso da Peste Negra, todos os cidadãos de determinada cidade eram cadastrados e passavam por uma espécie de “chamada” todos os dias, onde cada indivíduo chamado deveria comparecer a sua janela, aquele que não aparecesse era suposto portador da peste, e assim a casa e a cidade eram colocadas em isolamento, sendo então “incluídos" naquela “comunidade de peste”. Tanto os “excluídos” como os “incluídos”, buscavam dentro ou fora dos portões da cidade, a ressignificação social, gerando assim um saber distinto. 
Trazendo para nossos dias, podemos dizer que todas as instituições (escolas, prisões, fábricas, grupos religiosos, família, etc.) funcionam “inclusivamente”, proporcionando a ressignificação social de cada um de seus membros, em outras palavras, objetivando a normalização disciplinar da sociedade. Em uma mão inversa, os chamados “desvios”, as marginalizações, pertencem a “exclusão”, mas da mesma forma, buscam o mesmo fim: a ressignificação social.

Bibliografia
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Editora Vozes, 1991;
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 9º ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1989;
FOUCAULT, Michel. Os Anormais: curso no Collège de France (1974-1975). (Aula de 12 de fevereiro de 1975). São Paulo: Martins Fontes, 2001;
MACHADO, Roberto. Ciência e Saber: a Trajetória da Arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982.

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